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A Flâmula do Norte – Parte I

Com passos longos e robustos, o último oficial do exército Flâmula do Norte subiu na Desbravadora, que rebrilhava sob a pálida alvorada de Calavoth.O vento da manhã fria encheu seu coração com um fardo esdrúxulo, uma sensação amarga que ele não sabia explicar; olhou com desdém para o horizonte monocromático e, com um sorriso esboçado entre lábios, entrou na nave espacial.Arrastando sua sombra consigo e uma planilha de combate entre os dedos, adentrou a Desbravadora.

Olhava para os incontáveis salões que piscavam raramente com luzes acinzentadas, com oficiais, soldados e robôs que auxiliavam a demanda por vida no planeta mais próximo, Mirridîth, apesar da nave espacial ainda não ter partido.Tudo ajeitava-se peculiarmente aos cômodos e ao ambiente de guerra; uma ávida agitação pela verificação de combustível, reparação de ínfimos aparelhos e uma lista à ser cumprida para a decolagem da nave.Na câmara de controle, o tempo se arrastava indignamente por entre as paredes.Era visível uma preocupação crescente nos olhos do inabalável Arcavius, comandante da expedição.

O Conselho de Calavoth tornara-se audaz e inexpugnável, por causa dos murmúrios e boatos que se falavam à respeito da nave que havia desaparecido.Mecânicos, vendedores e soldados pouco se importaram com esses assuntos; mas é claro que política sempre foi um tema muito conservado pelos estudiosos de Calavoth.O que fazia o mundo girar era política; decisões à serem tomadas, guerras à serem começadas, reinos à serem desbravados.Absolutamente tudo.

De qualquer forma, uma coisa inquestionável era a preocupação de Arcavius.Apesar do sistema de refrigeração ser altamente eficaz e relaxante, ainda assim havia suor e desespero em seus olhos.Digitava agilmente por entre as teclas do computador Axt9500, que lhe permitia transformar os recursos que possuia em chances de probabilidade de sucesso na devida missão.Trabalhava arduamente para que a nave que havia desaparecido, não tivesse desaparecido.

Pois somente Arcavius havia marchado à guerra, e ele era um dos raros comandantes que sabiam da amargura da solidão e da morte.Não gostava de machucar ou matar; mas simplesmente era imposto devido às ordens do Conselho de Calavoth, que obrigava seus soldados à executarem ações inquestionáveis; embora muitos se chamassem os Exilados, pois fugiam do Reino de Calavoth sempre que suas pernas lhes permitiam e conseguiam.Viviam pelos ermos à procura da felicidade, que só aparecia às vezes.

O chão tremeu por um longo tempo.Portas se fecharam.Os corredores brancos e cheios de botões se moveram também.O teto se abriu e várias luzes vermelhes luziam sob os capacetes dos oficiais.Armados com as mais destrutivas armas já criadas, decidiram resgatar a nave que havia desaparecido.

Mas nem mesmo eles contavam com a escassa sorte que ainda havia em seus corações.Muitos murcharam.Caíram.Mas Arcavius sabia que aquela expedição não daria certo, de alguma forma ou de outra.

Abraços,

Mestre do Véu.